Brasília - O ex-presidente Lula quer o senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul, na Secretaria da Igualdade Racial, em substituição a socióloga Luiza Bairros, cuja gestão à frente da SEPPIR é considerada “apagada” pelo Planalto, na reforma ministerial que será anunciada nos próximos dias pela Presidente Dilma Rousseff.
A indicação de Lula a Dilma foi feita na semana passada, quando a Presidente esteve em S. Paulo, e acaba com dúvidas que pairavam sobre dois temas: o fim do status de ministério da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR); e a permanência de Bairros. A SEPPIR fica, ou seja, permanece com status de Ministério, mas a socióloga, cuja atuação, além de apagada enfrentou a oposição - nem sempre silenciosa - de toda a militância negra do PT e de grupos independentes pelo seu estilo fechado e avesso ao diálogo, sai.
Na última semana de 2011, o senador Paim recebeu o editor de Afropress, jornalista Dojival Vieira, para uma longa entrevista, na sala de café que fica ao lado do Plenário do Senado e, sem direcionar críticas à ministra, defendeu que a SEPPIR precisa de “uma boa chacoalhada”.
"Eu acho que o que a nossa SEPPIR precisa, independente do nome que for indicado, eu diria uma boa chacoalhada. Tem que dar uma... Olha estou aqui, estou vivo. Temos que fazer, o nosso povo não agüenta mais. Nós estamos aqui como Secretaria, como Ministério e temos que avançar. Vamos para o Congresso fazer o debate das cotas, fazer o debate da regulamentação, vamos ter Conferências nos Estados, fazer um debate forte, vivo, claro. Por que as questões do povo negro não avançam? Por que a Lei da Educação, nem 20% dos municípios brasileiros aplicam, o que é isso? Onde está o problema? É preciso fazer um movimento forte, reunindo os intelectuais, os militantes, o pensamento de negros e brancos comprometidos com a liberdade”, afirmou.
Ao contrário do discurso ufanista da ministra, na avaliação do Ano Internacional dos Afrodescendentes (definido em Resolução da ONU, no ano passado), Paim é de opinião que "não aconteceu nada em relação a uma data simbólica tão importante como essa”.
“Nesse aspecto, o que avançou? As cotas avançou? Não avançou. A questão quilombola avançou? Não avançou. Conseguimos dar mais visibilidade para a questão do povo negro, aproveitando o Ano? Não vi. Então, eu diria, que não aconteceu, na minha avaliação, nada. E não estou criticando nenhum evento. Os agentes que poderiam fazer com que isso acontecesse de uma forma, não digo global, mas pelo menos nacional, talvez – e digo talvez - foram engolidos, entre aspas, pela crise internacional”, afirmou.
O senador gaúcho disse que falta vontade política para que o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010) seja regulamentado e manifestou a preocupação de que se não houver essa vontade o Estatuto poderá se tornar mais “uma Lei para inglês ver”.
“Falta vontade política de que o Estatuto seja um instrumento e, contundente no combate ao racismo, ao preconceito, com valorização das terras dos quilombolas, com valorização da sala de aula; falta política nas áreas da saúde. Se você regulamenta vai ter de aplicar. Tem uma desculpa, embora eu saiba que muitos artigos ali são auto-aplicáveis. Não podem dizer que não aplicam porque não está regulamentado”, enfatizou.
Fonte: www.afropress.com.br
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