O berço do Mundo
A cidade de Ilê-Ifé é considerada pelos yorubas o lugar de origem de suas primeiras tribos. lfé é o berço de toda religião tradicional yoruba (a religião dos Òrìsà, o Candomblé do Brasil),é um lugar sagrado, onde os deuses al chegaram, criaram e povoaram o mundo e depois ensinaram aos mortais como os cultuarem, nos primórdios da civilização. Ilê-Ifé é o "Berço da Terra".
"Em um tempo onde os Deuses e Heróis andavam na terra com os Homens."
Olódùmarè
Olódùmarè o ser superior dos yorubas, que vive num universo paralelo ao
nosso, conhecido como Òrún, por isso Ele é também conhecido como Àjàlórún
e Olórun "Senhor ou Rei do Òrún", que através dos Òrìsà por Ele criado,
resolve incumbir um dos Òrìsà funfun (do branco), Òrínsànlá, (o grande
Òrìsà) o primeiro a ser criado, também chamado de Òrìsà-nlá e de Obàtálá,
de criar e governar o futuro Àiyé : a Terra, do nosso universo conhecido.
Ele lhe entrega o Àpò-Iwá (a sacola da existência) o qual contém todas as
coisas necessárias para a criação, e é aclamado como Aláàbáláàse, "Senhor
que tem o poder de sugerir e realizar". Como a tradição mandava, para
todos, antes de iniciar a viagem ele foi consultar o oráculo de Ifá, com
Òrúnmìlà, outro Òrìsà funfun, e este lhe orientou a fazer alguns
sacrifícios a divindade Èsù, mas se ele já era orgulhoso e prepotente,
mais ainda ficou, se recusou e nada fez, mas foi avisado que infortúnios
poderiam ocorrer.
Òrìsànlá, de posse do Àpò-Iwá, põe-se a caminhar pelo Òrún, para chegar à
"porta do espaço", até então um vazio, que viria a ser o Àiyé. Ele é o
Òrìsà que usa um cajado ritual conhecida como òpásóró, durante o caminho,
com muita sede, ele se defronta com o igi-òpé (árvore do dendêzeiro) e com
o seu òpásóró, perfura o caule da árvore da qual começa a "jorrar o emu"
(vinho de palma), e põe-se a beber, a tal ponto, que cai totalmente
embriagado no pé da palmeira e dorme profundamente. O infortúnio começa
acontecer.
Odùduwà
Outro Òrìsà funfun, o segundo criado por Olódùmarè, por conceito
"irmão mais novo" de Òrìsànlá, ficou enciumado, porque Olódùmarè tinha
entregado a Òrìsànlá o Àpò-Iwá, e o estava seguindo pelos caminhos do
Òrún, esperando que ele cometesse algum deslize, o que de fato aconteceu.
Odùduwà, encontrando-o naquele estado, apodera-se do Àpò-Iwá e leva-o até
Olódùmarè, narrando o acontecido, e, por este fato, Olódùmarè delega a
Odùduwà o poder de criar o Àiyé e por punição incumbe a Òrìsànlá de
somente criar e modelar os corpos dos seres humanos no Òrún, sob sua
supervisão e o proíbe terminantemente de nunca mais beber o emu. Odùduwà,
então, cumpre a tradição e faz as obrigações, para se tornar o progenitor
dos Yorubas, do Mundo : Olófin Odùduwà, o futuro Àjàlàiyé.
Desde então a relação tempestuosa entre Odùduwà e Obàtálá se perpetuou,
ora em disputas, discórdias, controvérsias e de outras formas, mas sempre
munindo a eterna rivalidade.
Odùduwà chegando ao Àiyé, cria tudo o que era necessário e delega poderes
às divindades que o seguiram, conhecidos como os Àgbà, para governarem a
criação, e volta ao Òrún, e só retornaria quando tudo estivesse realmente
concluído. Òrìsànlá, que tinha ficado no Òrún com seus seguidores, já
tinha moldado corpos suficientes para povoar o inicio do mundo, vai então
para o Àiyé, com seus seguidores, os Funfun; fato que ocorre antes da
volta de Odùduwà para o Àiyé.
Quando Olófin Odùduwà retorna ao Àiyé, funda a cidade de Ilê-Ifé, e vem a
ser o primeiro Oba (rei) do povo yorubano com o titulo de "Oba Óòni", ou
seja, o primeiro Óòni de Ifé, e a cidade se torna a morada dos deuses e
dos novos seres.
Durante todo este tempo, Odùduwà que já estava casado com Ìyá Olóòkun,
divindade feminina, responsável e dona dos mares, tem dois filhos, o
primogênito, a divindade Ògún e uma filha de nome Ìsèdélè. O tempo passa,
e Odùduwà, que era uma divindade negra, porém albina, incumbe seu filho
Ògún de ir para a aldeia de Ògòtún, vizinha de Ifé, conter uma rebelião.
Ògún, divindade negra, senhor do ferro, parte para sua missão e realiza o
intento, trazendo consigo Lakanje, filha do rebelde vencido. Ora, Lakanje
era espólio de Odùduwà, o Óòni de lfé, portanto intocável, mas Lakanje era
muito bela e extremamente sensual e Ògún não resistiu aos seus encantos e
com ela teve várias noites de amor, durante sua viagem de volta. Chegando
a lfé, ele entrega os espólios da conquista, inclusive Lakanje, a seu pai
Odùduwà, que também não resistiu aos lindos encantos da mortal Lakanje e
por ela se apaixona e acabaram por casar-se. Ògún nada tinha contado a seu
pai dos fatos ocorridos e logo após o casamento Lakanje está grávida,
desta gravidez nasce um filho de nome Odéde.
Só que o destino foi fatídico, Odéde nasceu metade negro, como a pele de
Ògún e metade branco, como a pele do albino Odùduwà, revelando assim, a
traição de Ògún para com a confiança do seu pai, esta situação gerou muita
discussão entre Odùduwà e Ògún, mas a principal foi "quem tinha razão",
ou, quem teria mais "genes" no filho em comum, Odéde, e cada um se
posicionava com a seguinte frase : "a minha palavra triunfou" ou "a minha
palavra é a correta", que aglutinada é Òrànmíyàn e foi assim que ele
passou a ser chamado e conhecido.
Com Lakanje, uma das muitas esposas de Odùduwà, ou com outras, teve ou já
tinha mais seis filhos, outros dizem dezesseis, uns, um número maior
ainda, enfim, alguns dos filhos destas esposas, geraram as linhagens dos
Obas Yorubanos, uns foram os precursores de sete das principais tribos, ou
mais, que deram origem à civilização dos yorubas, e religiosamente
falando, todos os povos do mundo. Os filhos, netos ou bisnetos de Odùduwà,
os deuses, semideuses e/ou heróis, formaram a base da nação yoruba,
portanto Olófin Odùduwà Àjàlàiyé é aclamado como "O Patriarca dos
Yorubas".
Obàtálá (Òrìsànlá) ,que também já estava no Àiyé com sua comitiva, mas
devido a grande rivalidade com Odùduwà, foi expulso de Ilê-Ifé e funda a
cidade de Ìgbò e se torna o primeiro Obà Ìgbò chamado também de Bàbá Ìgbò,
pai dos ìgbòs. Numa sociedade polígama, Òrìsànlá é um caso raro de
monogamia, pois a divindade Yemowo foi sua única esposa e não tiveram
filhos.
Òrànmíyàn
Após grandes vitórias, Òrànmíyàn torna-se o braço direito de seu pai em
Ilê-Ifê, pois seus outros irmãos foram povoar regiões distantes, menos
Obàlùfan Ògbógbódirin. Odùduwà ordena então que Òrànmíyàn conquiste terras
ao norte de Ifé, mas Òrànmíyàn não consegue cumprir a tarefa e sai
derrotado e, com vergonha de encarar seu pai, não volta mais a Ifé, com
isso funda uma nova cidade e lhe dá o nome de Oyó, tornando-se o primeiro
Oba Aláàfin de Oyó.
Casado com Morèmi, uma bela mortal ,nativa de Òfà ,que se tornou mais
tarde uma heroína em Ilê-Ifé, da qual tem um filho, que recebe o nome de
Ajaká. Após algum tempo, Òrànmíyàn investe em novas conquistas e volta a
guerrear contra a Nação dos Tapas, onde havia sido derrotado, mas desta
vez consegue uma grande vitória sobre Elémpe, na época rei dos Tapas. Por
sua derrota, Elémpe entrega-lhe sua filha Torosí, para que se case com
ele. Retornando a Oyó, Òrànmíyàn casa-se com Torosí e com ela tem um
filho, chamado de Sàngó, um mortal, nascido de uma mãe mortal e um pai
semideus, portanto com ascendentes divinos por parte de pai.
Após este período com inúmeras vitórias, a cidade de Oyó torna-se um
poderoso império, Òrànmíyàn, prestigiado e redimido de sua vergonha, volta
para Ilê-Ifé, deixando em seu lugar, em Oyó, o príncipe coroado, seu filho
Ajaká, que torna-se o segundo Aláàfin de Oyó.
Em uma de suas conquistas, a da cidade de Benin, anterior a fundação de
Oyó, Òrànmíyàn termina com a dinastia de Ogìso, o então rei, expulsando-o
e assumindo o trono, tornando-se o primeiro Obabínín, e inicia sua
dinastia tendo um filho, chamado Èwékà, com uma mulher do local. Antes de
deixar a cidade, ele torna Èwékà como seu sucessor no trono do Benin.
(Atual cidade na Nigéria, antigo Reino do Benin, não confundir com a
República do Benin, antigo país chamado Daomé.)
Durante sua longa ausência em Ilê-Ifé, Obàlùfan Ògbógbódirin ,seu irmão
mais velho, se tornou o segundo Óòni de Ifé, após o reinado de Odùduwà.
Quando Obàlùfan morreu, e ninguém sabia do paradeiro de Òrànmíyàn, o povo
de Ifé aclamou Obàlùfan Aláyémore como sucessor direto de seu pai.
Quando Òrànmíyàn chega em Ifé, Obàlùfan Aláyémore já reinava como o
terceiro Óòni de Ifé, mas com um fraco reinado. Enfurecido com o povo de
Ifé que haviam aclamado Aláyémore, e que o tinham chamado para combater
possíveis inimigos, o poderoso guerreiro colérico ,comete varias
atrocidades e só para quando uma anciã grita desesperada que ele está
destruindo seus "próprios filhos", o seu povo. Atônito, ele finca no chão
seu asà (escudo) que imediatamente se transforma em uma enorme laje de
pedra ,num lugar hoje chamado de "Ìta Alásà" ,e decide ir embora e nunca
mais voltar à Ifé.
Quando rumava para fora dos arredores de Ifé ,em Mòpá, foi interceptado
pelo povo que o saudavam como Óòni de Ifé e suplicavam por sua volta. Ele
então satisfeito e envaidecido ,atende ao povo e finca no chão seu òpá
(seu bastão de guerreiro) transformando-o em um monólito de granito (ver
foto : Òpá Òrànmíyàn) selando assim o acordo com o povo e volta em uma
procissão triunfante ao palácio de Ifé.
Sabendo disso, Obàlùfan Aláyémore abandona o palácio e se exila na cidade
de Ìlárá. Òrànmíyàn ascende ao trono e se torna o 4ª Óòni de Ifé até sua
morte. Obàlùfan Aláyémore, retorna do exílio e reassume como o 5ª Óòni de
Ifé e reina deste vez, com sucesso até a sua morte.
Ajaká
O Aláàfin de Oyó, o Oba Ajaká, meio irmão de Sàngó, era muito pacifico,
apático e não realizava um bom governo.
Sàngó, que cresceu nas terras dos Tapas ( Nupe), local de origem de
Torosí, sua mãe, e mais tarde se instalou na cidade de Kòso, mesmo
rejeitado pelo povo por ser violento e incontrolável, mas sendo tirânico,
se aclamou como Oba Kòso. Mais tarde, com seus seguidores, se estabeleceu
em Oyó, num bairro que recebeu o mesmo nome da cidade que viveu, Kòso e
com isso manteve seu titulo de Oba Kòso. Sàngó percebendo a fraqueza de
seu irmão e sendo astuto e ávido por poder, destrona Ajaká e torna-se o
terceiro Aláàfin de Oyó.
Ajaká, também chamado de Dadá, exilado, sai de Oyó para reinar numa cidade
menor, Igboho ,vizinha de Oyó, e não poderia mais usar a coroa real de
Oyó. E, com vergonha por ter sido deposto, jura que neste seu reinado vai
usar uma outra coroa (ade), que lhe cubra seus olhos envergonhados e que
somente irá tira-la quando ele puder usar novamente o ade que lhe foi
roubado. Esta coroa que Dadá Ajaká passa a usar, é rodeada por vários fios
ornados de búzios no lugar das contas preciosas do Ade Real de Oyó, e esta
chama-se Ade Bayánni Dadá Ajaká então casa-se e tem um filho
que chama-se Aganju, que vem a ser sobrinho de Sàngó.
Sàngó reina durante sete anos sobre Oyó e com intenso remorso das inúmeras
atrocidades cometidas e com o povo revoltado, ele abandona o trono de Oyó
e se refugia na terra natal de sua mãe em Tapa. Após um tempo, suicida-se,
enforcando-se numa árvore chamada de àyòn (àyàn) na cidade de Kòso. Com o
fato consumado, Dadá Ajaká volta à Oyó e reassume o trono, retira então o
Ade Bayánni e passa a usar o Ade Aláàfin, tornando-se então o quarto
Aláàfin de Oyó. Após sua morte, assume o trono seu filho Aganju, neto de
Òrànmíyàn e sobrinho de Sàngó, tornando-se o quinto Aláàfin de Oyó.
Com Aganju, termina o primeiro período da formação dos povos yoruba e após
seu reinado se dá inicio ao segundo período, o dos reis históricos. Vimos
: "De Ifé até Oyó, de Odùduwà a Aganju, passando por Sàngó."
Sàngó
O que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o que
se fala de Sàngó, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outros
acima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais.
Inicialmente, averiguamos que Odùduwà é um Òrìsà funfun masculino e único,
é o pai do povo yorubano e não uma simples "qualidade" de Òrìsànlá ou
seja, são divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam,
pelos fatos vistos; e que também Ìyá Olóòkun, é um Òrìsà feminino e a Dona
do Mar, portanto da água salgada, é quem governa os oceanos e não o Òrìsà
Yemojá, "Senhora do rio Yemojá e do rio Ògùn", divindade de água doce, e
muito menos mãe de Ògún e de outros filhos Òrìsà à ela atribuídos. Notar a
acentuação diferente no nome do Òrìsà Ògún e do rio, pois são palavras
distintas.
Quanto a Sàngó, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé,
portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. O
que ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a única que o
acompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oya, loucamente apaixonada
por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e
o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oya, Ele o
"ressuscita" como uma divindade, já que em vida, Oya, perdida de amores,
ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo que
pertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros,
por paixão.
Esta afirmação é facilmente notada, pois Sàngó é a única divindade do
panteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é,
em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta de
várias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, que
lembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais)
e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos
mortos comum, o carneiro; existe também outras minúcias, que aqui não cabe
mencionar.
Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo "qualidades" de Sàngó, que
agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é
filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e
completamente distintas, que fazem parte da família de Sàngó, mas não
tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também
no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de "Coroa de Dadá" ou "Adê
Baiani". que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas
do ciclo de Sàngó chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de
Sàngó. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá,
de quem Sàngó lhe roubou o trono, e que a mãe de Sàngó foi Torosí, filha
de Elémpe, rei dos Tapa, e que ela não tem nenhuma importância teológica,
somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.
Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sàngó,
somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos
Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que
se convergem e se conservam na grandiosidade de Sàngó.
NOTA* : Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos,
por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana.
Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos,
pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pela
arqueologia, que pouco investiu, os "pouquíssimos" artefatos que foram
achados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto da
longínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhum
momento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seria
um absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologia
praticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem o
tempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada.
( fonte internet)
A cidade de Ilê-Ifé é considerada pelos yorubas o lugar de origem de suas primeiras tribos. lfé é o berço de toda religião tradicional yoruba (a religião dos Òrìsà, o Candomblé do Brasil),é um lugar sagrado, onde os deuses al chegaram, criaram e povoaram o mundo e depois ensinaram aos mortais como os cultuarem, nos primórdios da civilização. Ilê-Ifé é o "Berço da Terra".
"Em um tempo onde os Deuses e Heróis andavam na terra com os Homens."
Olódùmarè
Olódùmarè o ser superior dos yorubas, que vive num universo paralelo ao
nosso, conhecido como Òrún, por isso Ele é também conhecido como Àjàlórún
e Olórun "Senhor ou Rei do Òrún", que através dos Òrìsà por Ele criado,
resolve incumbir um dos Òrìsà funfun (do branco), Òrínsànlá, (o grande
Òrìsà) o primeiro a ser criado, também chamado de Òrìsà-nlá e de Obàtálá,
de criar e governar o futuro Àiyé : a Terra, do nosso universo conhecido.
Ele lhe entrega o Àpò-Iwá (a sacola da existência) o qual contém todas as
coisas necessárias para a criação, e é aclamado como Aláàbáláàse, "Senhor
que tem o poder de sugerir e realizar". Como a tradição mandava, para
todos, antes de iniciar a viagem ele foi consultar o oráculo de Ifá, com
Òrúnmìlà, outro Òrìsà funfun, e este lhe orientou a fazer alguns
sacrifícios a divindade Èsù, mas se ele já era orgulhoso e prepotente,
mais ainda ficou, se recusou e nada fez, mas foi avisado que infortúnios
poderiam ocorrer.
Òrìsànlá, de posse do Àpò-Iwá, põe-se a caminhar pelo Òrún, para chegar à
"porta do espaço", até então um vazio, que viria a ser o Àiyé. Ele é o
Òrìsà que usa um cajado ritual conhecida como òpásóró, durante o caminho,
com muita sede, ele se defronta com o igi-òpé (árvore do dendêzeiro) e com
o seu òpásóró, perfura o caule da árvore da qual começa a "jorrar o emu"
(vinho de palma), e põe-se a beber, a tal ponto, que cai totalmente
embriagado no pé da palmeira e dorme profundamente. O infortúnio começa
acontecer.
Odùduwà
Outro Òrìsà funfun, o segundo criado por Olódùmarè, por conceito
"irmão mais novo" de Òrìsànlá, ficou enciumado, porque Olódùmarè tinha
entregado a Òrìsànlá o Àpò-Iwá, e o estava seguindo pelos caminhos do
Òrún, esperando que ele cometesse algum deslize, o que de fato aconteceu.
Odùduwà, encontrando-o naquele estado, apodera-se do Àpò-Iwá e leva-o até
Olódùmarè, narrando o acontecido, e, por este fato, Olódùmarè delega a
Odùduwà o poder de criar o Àiyé e por punição incumbe a Òrìsànlá de
somente criar e modelar os corpos dos seres humanos no Òrún, sob sua
supervisão e o proíbe terminantemente de nunca mais beber o emu. Odùduwà,
então, cumpre a tradição e faz as obrigações, para se tornar o progenitor
dos Yorubas, do Mundo : Olófin Odùduwà, o futuro Àjàlàiyé.
Desde então a relação tempestuosa entre Odùduwà e Obàtálá se perpetuou,
ora em disputas, discórdias, controvérsias e de outras formas, mas sempre
munindo a eterna rivalidade.
Odùduwà chegando ao Àiyé, cria tudo o que era necessário e delega poderes
às divindades que o seguiram, conhecidos como os Àgbà, para governarem a
criação, e volta ao Òrún, e só retornaria quando tudo estivesse realmente
concluído. Òrìsànlá, que tinha ficado no Òrún com seus seguidores, já
tinha moldado corpos suficientes para povoar o inicio do mundo, vai então
para o Àiyé, com seus seguidores, os Funfun; fato que ocorre antes da
volta de Odùduwà para o Àiyé.
Quando Olófin Odùduwà retorna ao Àiyé, funda a cidade de Ilê-Ifé, e vem a
ser o primeiro Oba (rei) do povo yorubano com o titulo de "Oba Óòni", ou
seja, o primeiro Óòni de Ifé, e a cidade se torna a morada dos deuses e
dos novos seres.
Durante todo este tempo, Odùduwà que já estava casado com Ìyá Olóòkun,
divindade feminina, responsável e dona dos mares, tem dois filhos, o
primogênito, a divindade Ògún e uma filha de nome Ìsèdélè. O tempo passa,
e Odùduwà, que era uma divindade negra, porém albina, incumbe seu filho
Ògún de ir para a aldeia de Ògòtún, vizinha de Ifé, conter uma rebelião.
Ògún, divindade negra, senhor do ferro, parte para sua missão e realiza o
intento, trazendo consigo Lakanje, filha do rebelde vencido. Ora, Lakanje
era espólio de Odùduwà, o Óòni de lfé, portanto intocável, mas Lakanje era
muito bela e extremamente sensual e Ògún não resistiu aos seus encantos e
com ela teve várias noites de amor, durante sua viagem de volta. Chegando
a lfé, ele entrega os espólios da conquista, inclusive Lakanje, a seu pai
Odùduwà, que também não resistiu aos lindos encantos da mortal Lakanje e
por ela se apaixona e acabaram por casar-se. Ògún nada tinha contado a seu
pai dos fatos ocorridos e logo após o casamento Lakanje está grávida,
desta gravidez nasce um filho de nome Odéde.
Só que o destino foi fatídico, Odéde nasceu metade negro, como a pele de
Ògún e metade branco, como a pele do albino Odùduwà, revelando assim, a
traição de Ògún para com a confiança do seu pai, esta situação gerou muita
discussão entre Odùduwà e Ògún, mas a principal foi "quem tinha razão",
ou, quem teria mais "genes" no filho em comum, Odéde, e cada um se
posicionava com a seguinte frase : "a minha palavra triunfou" ou "a minha
palavra é a correta", que aglutinada é Òrànmíyàn e foi assim que ele
passou a ser chamado e conhecido.
Com Lakanje, uma das muitas esposas de Odùduwà, ou com outras, teve ou já
tinha mais seis filhos, outros dizem dezesseis, uns, um número maior
ainda, enfim, alguns dos filhos destas esposas, geraram as linhagens dos
Obas Yorubanos, uns foram os precursores de sete das principais tribos, ou
mais, que deram origem à civilização dos yorubas, e religiosamente
falando, todos os povos do mundo. Os filhos, netos ou bisnetos de Odùduwà,
os deuses, semideuses e/ou heróis, formaram a base da nação yoruba,
portanto Olófin Odùduwà Àjàlàiyé é aclamado como "O Patriarca dos
Yorubas".
Obàtálá (Òrìsànlá) ,que também já estava no Àiyé com sua comitiva, mas
devido a grande rivalidade com Odùduwà, foi expulso de Ilê-Ifé e funda a
cidade de Ìgbò e se torna o primeiro Obà Ìgbò chamado também de Bàbá Ìgbò,
pai dos ìgbòs. Numa sociedade polígama, Òrìsànlá é um caso raro de
monogamia, pois a divindade Yemowo foi sua única esposa e não tiveram
filhos.
Òrànmíyàn
Após grandes vitórias, Òrànmíyàn torna-se o braço direito de seu pai em
Ilê-Ifê, pois seus outros irmãos foram povoar regiões distantes, menos
Obàlùfan Ògbógbódirin. Odùduwà ordena então que Òrànmíyàn conquiste terras
ao norte de Ifé, mas Òrànmíyàn não consegue cumprir a tarefa e sai
derrotado e, com vergonha de encarar seu pai, não volta mais a Ifé, com
isso funda uma nova cidade e lhe dá o nome de Oyó, tornando-se o primeiro
Oba Aláàfin de Oyó.
Casado com Morèmi, uma bela mortal ,nativa de Òfà ,que se tornou mais
tarde uma heroína em Ilê-Ifé, da qual tem um filho, que recebe o nome de
Ajaká. Após algum tempo, Òrànmíyàn investe em novas conquistas e volta a
guerrear contra a Nação dos Tapas, onde havia sido derrotado, mas desta
vez consegue uma grande vitória sobre Elémpe, na época rei dos Tapas. Por
sua derrota, Elémpe entrega-lhe sua filha Torosí, para que se case com
ele. Retornando a Oyó, Òrànmíyàn casa-se com Torosí e com ela tem um
filho, chamado de Sàngó, um mortal, nascido de uma mãe mortal e um pai
semideus, portanto com ascendentes divinos por parte de pai.
Após este período com inúmeras vitórias, a cidade de Oyó torna-se um
poderoso império, Òrànmíyàn, prestigiado e redimido de sua vergonha, volta
para Ilê-Ifé, deixando em seu lugar, em Oyó, o príncipe coroado, seu filho
Ajaká, que torna-se o segundo Aláàfin de Oyó.
Em uma de suas conquistas, a da cidade de Benin, anterior a fundação de
Oyó, Òrànmíyàn termina com a dinastia de Ogìso, o então rei, expulsando-o
e assumindo o trono, tornando-se o primeiro Obabínín, e inicia sua
dinastia tendo um filho, chamado Èwékà, com uma mulher do local. Antes de
deixar a cidade, ele torna Èwékà como seu sucessor no trono do Benin.
(Atual cidade na Nigéria, antigo Reino do Benin, não confundir com a
República do Benin, antigo país chamado Daomé.)
Durante sua longa ausência em Ilê-Ifé, Obàlùfan Ògbógbódirin ,seu irmão
mais velho, se tornou o segundo Óòni de Ifé, após o reinado de Odùduwà.
Quando Obàlùfan morreu, e ninguém sabia do paradeiro de Òrànmíyàn, o povo
de Ifé aclamou Obàlùfan Aláyémore como sucessor direto de seu pai.
Quando Òrànmíyàn chega em Ifé, Obàlùfan Aláyémore já reinava como o
terceiro Óòni de Ifé, mas com um fraco reinado. Enfurecido com o povo de
Ifé que haviam aclamado Aláyémore, e que o tinham chamado para combater
possíveis inimigos, o poderoso guerreiro colérico ,comete varias
atrocidades e só para quando uma anciã grita desesperada que ele está
destruindo seus "próprios filhos", o seu povo. Atônito, ele finca no chão
seu asà (escudo) que imediatamente se transforma em uma enorme laje de
pedra ,num lugar hoje chamado de "Ìta Alásà" ,e decide ir embora e nunca
mais voltar à Ifé.
Quando rumava para fora dos arredores de Ifé ,em Mòpá, foi interceptado
pelo povo que o saudavam como Óòni de Ifé e suplicavam por sua volta. Ele
então satisfeito e envaidecido ,atende ao povo e finca no chão seu òpá
(seu bastão de guerreiro) transformando-o em um monólito de granito (ver
foto : Òpá Òrànmíyàn) selando assim o acordo com o povo e volta em uma
procissão triunfante ao palácio de Ifé.
Sabendo disso, Obàlùfan Aláyémore abandona o palácio e se exila na cidade
de Ìlárá. Òrànmíyàn ascende ao trono e se torna o 4ª Óòni de Ifé até sua
morte. Obàlùfan Aláyémore, retorna do exílio e reassume como o 5ª Óòni de
Ifé e reina deste vez, com sucesso até a sua morte.
Ajaká
O Aláàfin de Oyó, o Oba Ajaká, meio irmão de Sàngó, era muito pacifico,
apático e não realizava um bom governo.
Sàngó, que cresceu nas terras dos Tapas ( Nupe), local de origem de
Torosí, sua mãe, e mais tarde se instalou na cidade de Kòso, mesmo
rejeitado pelo povo por ser violento e incontrolável, mas sendo tirânico,
se aclamou como Oba Kòso. Mais tarde, com seus seguidores, se estabeleceu
em Oyó, num bairro que recebeu o mesmo nome da cidade que viveu, Kòso e
com isso manteve seu titulo de Oba Kòso. Sàngó percebendo a fraqueza de
seu irmão e sendo astuto e ávido por poder, destrona Ajaká e torna-se o
terceiro Aláàfin de Oyó.
Ajaká, também chamado de Dadá, exilado, sai de Oyó para reinar numa cidade
menor, Igboho ,vizinha de Oyó, e não poderia mais usar a coroa real de
Oyó. E, com vergonha por ter sido deposto, jura que neste seu reinado vai
usar uma outra coroa (ade), que lhe cubra seus olhos envergonhados e que
somente irá tira-la quando ele puder usar novamente o ade que lhe foi
roubado. Esta coroa que Dadá Ajaká passa a usar, é rodeada por vários fios
ornados de búzios no lugar das contas preciosas do Ade Real de Oyó, e esta
chama-se Ade Bayánni Dadá Ajaká então casa-se e tem um filho
que chama-se Aganju, que vem a ser sobrinho de Sàngó.
Sàngó reina durante sete anos sobre Oyó e com intenso remorso das inúmeras
atrocidades cometidas e com o povo revoltado, ele abandona o trono de Oyó
e se refugia na terra natal de sua mãe em Tapa. Após um tempo, suicida-se,
enforcando-se numa árvore chamada de àyòn (àyàn) na cidade de Kòso. Com o
fato consumado, Dadá Ajaká volta à Oyó e reassume o trono, retira então o
Ade Bayánni e passa a usar o Ade Aláàfin, tornando-se então o quarto
Aláàfin de Oyó. Após sua morte, assume o trono seu filho Aganju, neto de
Òrànmíyàn e sobrinho de Sàngó, tornando-se o quinto Aláàfin de Oyó.
Com Aganju, termina o primeiro período da formação dos povos yoruba e após
seu reinado se dá inicio ao segundo período, o dos reis históricos. Vimos
: "De Ifé até Oyó, de Odùduwà a Aganju, passando por Sàngó."
Sàngó
O que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o que
se fala de Sàngó, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outros
acima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais.
Inicialmente, averiguamos que Odùduwà é um Òrìsà funfun masculino e único,
é o pai do povo yorubano e não uma simples "qualidade" de Òrìsànlá ou
seja, são divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam,
pelos fatos vistos; e que também Ìyá Olóòkun, é um Òrìsà feminino e a Dona
do Mar, portanto da água salgada, é quem governa os oceanos e não o Òrìsà
Yemojá, "Senhora do rio Yemojá e do rio Ògùn", divindade de água doce, e
muito menos mãe de Ògún e de outros filhos Òrìsà à ela atribuídos. Notar a
acentuação diferente no nome do Òrìsà Ògún e do rio, pois são palavras
distintas.
Quanto a Sàngó, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé,
portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. O
que ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a única que o
acompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oya, loucamente apaixonada
por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e
o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oya, Ele o
"ressuscita" como uma divindade, já que em vida, Oya, perdida de amores,
ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo que
pertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros,
por paixão.
Esta afirmação é facilmente notada, pois Sàngó é a única divindade do
panteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é,
em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta de
várias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, que
lembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais)
e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos
mortos comum, o carneiro; existe também outras minúcias, que aqui não cabe
mencionar.
Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo "qualidades" de Sàngó, que
agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é
filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e
completamente distintas, que fazem parte da família de Sàngó, mas não
tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também
no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de "Coroa de Dadá" ou "Adê
Baiani". que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas
do ciclo de Sàngó chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de
Sàngó. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá,
de quem Sàngó lhe roubou o trono, e que a mãe de Sàngó foi Torosí, filha
de Elémpe, rei dos Tapa, e que ela não tem nenhuma importância teológica,
somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.
Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sàngó,
somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos
Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que
se convergem e se conservam na grandiosidade de Sàngó.
NOTA* : Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos,
por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana.
Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos,
pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pela
arqueologia, que pouco investiu, os "pouquíssimos" artefatos que foram
achados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto da
longínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhum
momento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seria
um absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologia
praticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem o
tempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada.
( fonte internet)
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