A CONEN também recuperou o trecho do improviso do discurso de Abdias durante as solenidades cívico-religiosas na Serra da Barriga, que marcaram a inauguração do monumento em homenagem a Zumbi, no 20 de Novembro de 1983, Dia Nacional da Consciência Negra, em União dos Palmares, Alagoas.
Releia as palavras do líder negro no Juramento a Zumbi
“Peço humildemente permissão à Iyalorixá Mãe Hilda para invocar Olorum, senhor de todas as coisas, senhor da vida e da morte, senhor dos mortos e dos vivos.
Invoco Oxum, a doadora do amor. Rogo permissão a Oxum e a Exu para me ajoelhar diante da terra da liberdade da minha raça, e beijar este solo sagrado.
Beijo a terra da minha história e digo: “Aqui estou, Zumbi; aqui vim Zumbi, para me desculpar, para te dizer: Chegamos tarde, mas chegamos. Demoramos muito a vir resgatar o chão da nossa história, recuperar o chão da nossa existência livre. Perdão, rei Zumbi, por termos demorado tanto!”
Ao pé desse monumento, celebrado pelo amor dos seus herdeiros, pelo amor dos seus descendentes, depositamos nossas lágrimas e nossas esperanças. Viemos tarde, Zumbi, mas viemos definitivamente. Para marchar sempre para frente, levando o teu facho de luta, sonhando o teu sonho de liberdade. Até que esta raça grandiosa, este povo belo, o mais belo do mundo, o meu povo, o povo negro, resgate este país que ele construiu, o chão de Palmares, encharcado pelo teu suor, pelo sangue teu e dos nossos ancestrais. Chão sacralizado pelo sacrifício, pelo holocausto de toda uma raça.
Nós aqui estamos, Zumbi, para jurar o nosso compromisso de restaurar a tua pátria, retomar o chão da liberdade que tu plantaste nesta terra que é nossa. Esta chão não será mais daqueles latifundiários que te apunhalaram pelas costas e pelo peito, aqueles latifundiários que te roubaram a vida a ti e a teu povo; que ainda estão roubando o suor do teu povo, calejado nos porões infames desta civilização industrial e capitalista. Este suor e este sangue – patrimônio africano que tu plantaste, nós os recolhemos, Zumbi. Estamos aqui, de joelhos, unidos de braços erguidos e punhos cerrados para dizer não à opressão. Dizer não ao racismo. Não à discriminação e à exploração”.
Abdias do Nascimento
Uma referência de luta para muitas gerações, no Brasil e no mundo!
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