S. Paulo - Um segurança dos Supermercados CompreBem, do Grupo Pão de Açúcar da loja de Itaquera, seguiu Edvanda de Carvalho Rodrigues, 52 anos, e sua filha, Aline Carvalho Murça, 27 (foto) – ambas bacharéis em Direito pela Universidade S. Francisco e bolsistas da Rede Educafro - por pelo menos 300 metros na rua para acusá-las do furto de mercadorias pelas quais haviam pago.
“Eu quero falar com vocês. Sou policial e segurança do mercado. Eu não abordei vocês dentro do mercado porque não faço isso. Acho chato. Muita gente faz isso, mas eu não faço. Uma pessoa viu vocês pegando alguma coisa no mercado e pelo fato de vocês serem negras e estarem no mercado...”, teria dito o vigia e guarda civil Vicente Donizete da Silva, segundo o relato das duas.
Por causa da abordagem – na presença de dezenas de pessoas que passavam pela rua – Edvanda começou a passar mal e teve de ser socorrida no Hospital Municipal Waldomiro de Paula (Hospital Planalto), onde chegou com crise de hipertensão e sob estado de choque, de acordo com a médica Marcella Castro Silva, que a atendeu.
O caso aconteceu no último dia 07 de julho e está registrado no 32º DP de Itaquera. Ao comparecer à Delegacia para registrar a queixa, mãe e filha encontraram o segurança que tentou mudar a versão, alegando que havia seguido a ambas para pedir desculpas.
Protesto
O caso mais recente de violência e constrangimentos envolvendo pessoas negras vítimas de discriminação em lojas de supermercados na Grande S. Paulo é o motivo da manifestação marcada por ativistas da Educafro – a maior rede de cursinhos pré-vestibulares do Brasil – marcado para a frente do Setor de Relacionamento com o Cliente do Grupo Pão de Açúcar.
O protesto começará na frente da própria loja em Itaquera, de onde sairá um ônibus lotado de ativistas. Segundo o diretor executivo da Educafro – Frei David Raimundo dos Santos – o protesto será o primeiro de uma série de manifestações.
“A família Educafro está convicta de que a omissão e a falta de articulação é inimiga da vitória. Estamos dispostos a fazer tantos atos quantos forem necessários até que essas empresas invistam na capacitação dos seus funcionários; invistam numa nova visão de compreensão e respeito à comunidade negra, e indenizando as vítimas”, afirmou o Frei.
O protesto está marcado para começar às 9h, e o ponto de encontro é a Brigadeiro Luiz Antonio, à altura do número 3.142, no Jardim Paulista, próximo ao Parque do Ibirapuera.
Rotina
Os ativistas lembram que os casos de discriminação como o ocorrido com Edvanda e Aline não são recentes. “Quando um negro entra no mercado, shoping ou loja, passa a ser acompanhado pelo segurança, com olhares de desconfiança e quase sempre com a abordagens sem qualquer respeito a dignidade humana das pessoas”, afirmou.
Na manifestação também será lembrado que o Grupo Pão de Açúcar tem sido reincidente nesse tipo de ocorrência, como no caso dos três menores levados para um quartinho, onde foram submetidos à maus tratos e violência, na loja do Hipermercado Extra, da Marginal do Tietê, em janeiro passado.
O caso, que está sendo investigado em Inquérito Policial aberto no 10º DP da Penha, resultou no pagamento de indenização de R$ 260 mil a um dos garotos, por parte do Grupo (veja matéria). A empresa, porém, até o momento silenciou sobre os outros dois garotos que, além dos maus tratos, teriam sofrido agressão física por parte de seguranças.
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