O preconceito é tão antigo quanto a humanidade, mas o racismo parece não ter mais de quinhentos anos. Antes disso a discriminação era feita em relação á cultura e ao diferente.
Os gregos chamavam de “bárbaros” qualquer pessoa que não falasse sua língua, mas quem a aprendesse não teria complicações nenhuma.
O problema começou a mudar no final do século XV, quando a Inquisição espanhola obriga os judeus a se converterem ao catolicismo.
Muitos desses cristãos novos continuam a praticar os seus ritos, o que leva os católicos a acreditar que havia algo no sangue judeu que impedia a conversão. A solução era evitar a miscigenação para que esse sangue não se espalhasse pela população.
Na mesma época os europeus chegam a África e á América e encontram um tipo de ser humano completamente diferente do que eles conheciam. Até então a humanidade era a Europa, o conceito de branco não existia até eles conhecerem o negro.
O encontro, obviamente trouxe dilemas novos. Os Teólogos da época discutiam se os índios tinham alma com o objetivo de saber, por exemplo, se ter relações sexuais com eles era pecado. Eles também chegaram à conclusão de que escravizar africanos era natural, com base na passagem bíblica em que Canaã, filho de Noé, embriaga-se e é condenado à servidão (Gênesis 9,25).
A partir do século XVIII e principalmente do século XIX, as explicações bíblicas dão lugar a argumentos “científicos”. Os “pesquisadores associavam os traços físicos de cada “raça” a atributos morais para tentar eliminar características indesejáveis. Um deles foi o conde francês Joseph Arthur de Gobineau que em 1855 concluiu “brilhantemente” causa a decadência dos povos e que os alemães era uma “raça” superior as outras. Um de seus discípulos foi o médico brasileiro, Raimundo Nina Rodrigues, para quem os rituais do Candomblé era uma patologia dos negros.
Apesar de essa teoria ter caído em total descrédito no século XX, o tipo de descriminação que elas pregavam permanece vivo em muitas pessoas, pois é uma ideologia que se reproduz facilmente e que está sempre ligado a dominação de um grupo sobre o outro.
Além de qualquer aspecto psicológicos, o racismo tem motivos bastante práticos. Na verdade ele é um sistema de levar vantagens sobre outras pessoas e manter privilégios.
O Brasil Racista (?)
O nosso país me parece ser muito racista, embora o racismo por aqui tenha adquirido outras facetas, é racista. Por que a canção de ninar: “Boi, boi, boi... Boi da cara Preta” por que o Boi tem que ser da “cara preta”? Por que o cabelo crespo do negro tem que ser chamado de cabelo “ruim”? Estes são exemplos de o quanto está incorporado o racismo entre nós que atitudes aparentemente pequenas não nos incomodam.
Demoramos em perceber o racismo no Brasil por que durante bastante tempo acreditou-se no mito da “Democracia Racial”.
Cronistas do século XIX chegaram a dizer que por aqui a escravidão era mais branda do que o trabalho assalariado na Inglaterra. Da mesma forma, o índio brasileiro não teria sido conquistado, nem derrotado, mas sim “incorporado” a nação. A idéia ganhou força nos anos 30 do século passado, inspirada pela obra de Gilberto Freire, para quem não havia no Brasil distinções rígidas entre brancos e negros e a discriminação era “apenas” social, feita aos pobres.
O mito começou a cair no final dos anos 60, quando se descobriu que o Brasil não só tinha preconceito em relação aos pobres - o que em si já é terrível – como a descriminação era especialmente dirigida aos negros, pardos e índios.
Os dados sociais mais recentes mostram a força das diferenças raciais no Brasil. Mesmo quando se comparam pessoas da mesma região, sexo, idade e educação os negros têm enorme desvantagens no mercado de trabalho.
Mesmo quando existem dados favoráveis como, por exemplo, o aumento do nível de ensino na população brasileira, a distância entre negros e brancos permanece constante. Outro mito cai por terra, quando você observa os estudos recentes. Dizia-se que a pobreza dos negros é apenas um resquício da escravidão. É verdade que o passado de servidão forçada colocou a maioria dos negros em uma classe social mais baixa, mas desde então houve tempo suficiente para que tal diferença diminuísse e isto não acontece por que os negros não têm a mesma oportunidade que os brancos.
Uma pergunta pode ser feita. Se o racismo é tão forte por que a imagem de que éramos um paraíso racial durou tanto tempo?
Existem vários motivos...
Mas este é assunto para o próximo artigo...
Jairo Junior
* Presidente Associação Brasil Angola (AABA); Diretor do Centro Cultural Africano (CCA); Coordenador do Congresso Nacional de Capoeira (CNC)
Fonte: Portal Vermelho
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