Seu lugar de origem, Pelotas, não a reconheceu. Nos anos 90 radicou-se em Brasília, onde atuava em projetos sociais de governo sobre o problema racial. O resto do Brasil a conheceu como Helena do Sul.
Poucos sabiam que Maria Helena ocupava, desde o ano 2000, uma cadeira na Academia Pelotense de Letras, sendo a única mulher negra a ingressar numa academia literária. Não publicou um só livro, mas onze, entre ensaios e poesias.
A APEL, dirigida por Zênia de León, revelou em sua coluna no Diário da Manhã (2&3 fev 09) um fato desconhecido. Em 1960, último ano de estudos no Assis Brasil, Helena foi escolhida pelos professores para levar a bandeira no desfile da Semana da Pátria, honra que cabia por tradição ao aluno que tivesse as melhores notas.
"Tudo pronto, luvas brancas compradas pela mãe lavadeira, saia bem passada, (...) uma conversa entre Maria Helena e a diretora do Assis Brasil, alterou a questão". Durante mais de meia hora, as duas junto à parede do corredor, a diretora tentando dissuadi-la: "Que dirão, uma negra levando a Bandeira Nacional?"
"Maria Helena não saiu no pelotão de honra. Pela estatura, perdeu-se no meio da meninada, nas últimas posições. Os que a conheciam sabiam que lá estava a melhor aluna do Curso Normal. Eu guardei o fato a seu pedido durante mais de 40 anos. Hoje é o momento de contar, sem meias palavras, em sua homenagem.
Segundo Obama, os tempos mudaram e nós devemos mudar também. Carregaste, Maria Helena, a bandeira da virtude, da inteligência, do trabalho em prol dos irmãos de cor e a ergueste bem alto para o reconhecimento dessa gente agradecida, eis tua virtude maior".
No Império, ser branco e católico eram condições essenciais para ter participação cidadã. As tradições se prolongaram pelos tempos republicanos. Quanto delas ainda levamos em nossos costumes e pensamentos?
Fonte: Sergio Dorneles CCNRS |
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