S. Paulo - Será nesta sexta-feira, às 19h, na Igreja Nossa Senhora dos Homens Pretos, no Paissandu, a missa de sétimo dia do ex-deputado Adalberto Camargo, 84 anos, presidente da Câmara de Comércio Afro-Brasileira e da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Nigéria.
Camargo, deputado por quatro mandados consecutivos, faleceu no último sábado, no Hospital do Coração (Hcor), no Paraíso, onde estava hospitalizado há cerca de 10 dias para tratar de complicações pulmonares. Seu enterro aconteceu domingo (17/08), às 8h, no Cemitério do Araçá, depois de ser velado na Assembléia Legislativa durante todo o sábado.
Perda
Segundo o jornalista Antonio Lúcio, colunista de Afropress e amigo de longa data do ex-deputado, Adalberto Camargo "foi um ícone e precursor de muitas conquistas da comunidade negra, inclusive da participação da mulher negra na política, lançando e apoiando Teodosina Ribeiro, primeira mulher negra a se eleger deputada estadual por S. Paulo".
Ele próprio, superando as dificuldades de uma infância pobre e muito difícil se tornaria o primeiro deputado federal negro, eleito por S. Paulo, na década de 60. Nascido em Araraquara, interior de S. Paulo, ficou órfão de mãe aos cinco anos e foi morar com um tio e dezenove primos, numa fazenda de S. José do Rio Preto. Todas as manhãs saía para vender leite na cidade, montado num cavalo baixo que não podia ver rio ou lagou sem se jogar dentro, para desespero de Camargo. Infância difícil
Seu primeiro negócio negócio foi vender doces na estação de S. José do Rio Preto. Na cidade, trabalhou ainda como vendedor de doces de leite. Percorria os bares fornecendo quinze doces em troca de 10 tostões e os estabelecimentos revendiam a mercadoria a 1 tostão cada um. Nas horas vagas engraxava sapatos e entregava as encomendas do protético local.
Por um ano foi ajudante de coveiro. Ao completar 15 anos, enfim, conheceu o pai, o rábula Sebastião Paulino, de quem, mais tarde, se tornou grande amigo. Um ano depois, em 1939, mudou-se para São Paulo. Tinha alguma experiência de engraxate, coveiro e vendedor, além de um curso primário mal feito. "De valioso, só possuía a certeza de que é possível ser humilde com dignidade", costumava dizer.
Já em S. Paulo, trabalhou como marceneiro, atendente de armazém, auxiliar de tabelião, vendedor de lingerie. Uma amiga, Lurdes Rosário, o aconselhou a entrar no negócio de carros usados na Avenida São João, nas proximidades do Largo do Arouche. Montou uma loja, na rua Marquês de Itu. Guariba, baliza do bloco carnavalesco Vai-Vai, que polia e renovava carros com habilidade já folclórica na praça de São Paulo, foi junto. Logo o negócio criou fama e gíria própria (dar uma guaribada no carro). Camargo aproveitou os lucros com a venda de carros para viajar aos Estados Unidos e estudar o amplo mercado local de automóveis. Em Chicago, observou especialmente as empresas que alugavam carros, inexistentes no Brasil. Durante três anos, estudou minuciosamente a organização de uma companhia similar.
Em 1959, surgia a Auto-Drive, com cem Volkswagens sedã, a maior frota particular no país. Posteriormente, fundou a Táxi Amarelinho, uma das frotas de táxi pioneiras (duzentos automóveis, que consagrou a utilização do Volkswagen como carro de aluguel).Em 1966, pela primeira vez, entrou na sede de um partido político, o MDB paulista. Queria concorrer às eleições para a Câmara Federal. Foi eleito com 18.000 votos e reeleito, quatro anos mais tarde, com 43.000 votos.
Na Câmara foi vice-presidente da Comissão de Transporte e faz parte das comissões de Finanças e Relações Exteriores.
África
O ex-deputado foi um dos entusiastas da aproximação comercial do Brasil com a África e, em 1.973, organização a 1ª Missão Comercial da África, com participação de 37 homens de negócios brasileiros e cinco funcionários do Governo brasileiro.Durante essa missão de negócios, foram visitados os seguintes países africanos: Senegal, Ghana, Togo, República de Benin, Nigéria, Camarões, Zaire e Libéria.
Fonte: afropress
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