Técnicos do Projeto - ATER no Quilombo, desenvolvido pelo EMATER - Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí, em parceria com a Coordenação das Comunidades Quilombolas do Piauí, estão desde quinta-feira passada (09) construindo um plano de desenvolvimento rural sustentável para comunidades quilombolas da região de Esperantina.
O trabalho faz parte de convênio com o MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário e segue até o próximo dia 17."A nossa expectativa é de saíamos daqui com um plano bastante qualificado por que nós utilizamos a metodologia do diagnóstico rural participativo, onde a comunidade atua em todo o processo", diz o Eng. Agrôn. Orlando Costa, coordenador do projeto.
De acordo com Orlando, baseado no diagnóstico que foi feito nestas comunidades, numa fase anterior, os quilombolas estão reivindicando, além da titulação das terras, uma assistência técnica mais presente e políticas públicas. "Estas são comunidades bastante excluídas e esta tem sido uma característica das comunidades quilombolas. Eles querem produzir. Mas, querem o acompanhamento técnico. Também querem moradia digna, saneamento básico, energia elétrica, escola, posto de saúde e toda estrutura básica necessária para viverem com dignidade", explica Orlando.As equipes técnicas foram compostas para atuarem em quatro comunidades do município de Campo Largo, três em Esperantina e quatro em Batalha. "Com as 25 comunidades que nós vamos trabalhar até o final deste ano, sendo 11 na região de Esperantina e 14 em São João do Piauí e São Raimundo Nonato, a EMATER perfaz um total de 106 comunidades, onde tem sido construído um plano de desenvolvimento rural sustentável para estas comunidades e tem implementado, naquilo que diz respeito ao EMATER, demandas que saem nestes planos, articulado com os outros órgãos executores das outras políticas publicas", diz Orlando.Como é construído o plano participativoDesde o primeiro momento a comunidade participa, dizendo quais são as potencialidades e os pontos fortes em cada dimensão do desenvolvimento rural sustentável nas dimensões social, econômico, institucional e ambiental.
De acordo com a extensionistas Social do EMATER, Risomar Garcia Fernandes, um dos facilitadores que atuaram na comunidade São Francisco, a própria comunidade identifica também as próprias fraquezas."A partir do que eles têm de potencialidades e fraquezas é que vamos fazer um plano de desenvolvimento. Ou seja, tentar reverter esta situação, deixando a comunidade perceber como eles estão e como querem estar daqui a cinco anos. Com essa pergunta geradora, a gente vai trabalhar as ações estratégicas e os projetos", explica Risomar.
Na comunidade "Manga", em Batalha, a extensionista social Maria Góis, trabalha com o apoio dos técnicos agrícolas João Marques e Aldo Filho, além de um representante da coordenação quilombola. "Nós estamos usando um documento sistematizado das referências da comunidade, buscando fazer uma visualização através de "tarjetas escritas" para que eles analisem cada dimensão, cada colocação que eles fazem", explica Góis.
A vida no quilomboSegundo Cláudio Henrique, da coordenação estadual das comunidades quilombolas na região dos Cocais, atualmente existem 126 comunidades quilombolas em todo o Piauí.
A constatação dele é de que algumas comunidades tiveram pouco desenvolvimento. Em outras, como a comunidade São Francisco, onde ele atuou como facilitador, já existem algumas melhorias como energia elétrica e água. "Esse trabalho vem traçando essa política pública para melhorar a qualidade de vida do povo negro, que há tantos anos ficou esquecido", afirma Cláudio.
Para ele, as comunidades quilombolas precisam ser reconhecidas por todas as políticas governamentais. Eles querem ainda trabalhar por um projeto cultural de reconhecimento das comunidades como negras e a viabilização de projetos produtivos. "Geração de renda é trabalhar na agricultura familiar com projetos de campos agrícolas, criação de caprinos, ovinos e aves.
Na parte cultural é preciso um espaço para que os negros possam apresentar a cultura dos seus antepassados, como o "Tambor de Crioula", "Reisado", "Dança de São Gonçalo", "Samba de Cumbuca", "Caretas", uma infinidade de culturas", explica Cláudio.Sem planejamento, projeto deu prejuízoEm 1998, o assentamento "Caçados", que faz parte de uma das comunidades do projeto Ater no quilombo, foi uma dos últimos a serem contemplados com recursos do antigo Procera. (que mais tarde foi substituído pelo Pronaf - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). "Fizemos 25 hectares de área irrigada. Aí o cara botou para nós produzir arroz por aspersão. (Que não tem como produzir!). Fizemos o projeto e preparamos tudo. Quando terminou, nós ainda compramos um arroz requentado. (Quer dizer. foi colocado para esquentar no forno). Nós não sabíamos. Queríamos era plantar", afirma José Carlos (mais conhecido por Carlitos), vice-presidente da associação do assentamento.Carlitos afirma que os agricultores ficaram endividados e equipamentos como um trator ficaram esquecidos na área central do assentamento. "Nós fizemos o projeto de irrigação, 40 hectares de mandioca e 40 hectares de capim (para criação de gado). O gado foi quem salvou a gente e o governo que deu um rebate de quase 90% de desconto", explica Carlitos.
Fonte: Fundação Cultural Palmares
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