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sábado, 28 de junho de 2008

CEM ANOS DA MORTE DE MACHADO DE ASSIS E CINCO ANOS DA LEI 10.639/2003

Em artigo, Elizabeth Brose aponta que Machado, mulato, neto de escravos e órfão, foi criado por uma mulata e, para sobreviver, vendia na rua quitutes. Hoje, textos desconhecidos de Machado são revelados e relacionados à sua vida.
O Brasil lembra em 2008 da obra Machado de Assis. O contexto é novo, pois, há cinco anos, a LDB/Lei 10.639/2003 inclui na Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira. Os textos de Machado são, por isso, revistos sob a perspectiva do art.1, ou seja, da História da África e dos Africanos, da luta dos negros no Brasil, da cultura negra brasileira e do negro na formação da sociedade nacional.
Nesse momento, Eduardo de Assis Duarte publica o livro Machado de Assis: afro-descendente2, em que textos desconhecidos de Machado são revelados e relacionados à sua vida. Segundo Nei Lopes, em Dicionário Escolar Afro-Brasileiro3, Machado, mulato, neto de escravos e órfão, foi criado por uma mulata e, para sobreviver, vendia na rua quitutes preparados por sua madrasta. Estréia aos quinze anos na literatura pela mão do também afro-brasileiro Paula Brito, começando carreira duplamente promissora: a de jornalista e a de escritor. Machado não era rico ou descendente da burguesia, mas funcionário que, por mérito da obra, convive de igual para igual com a elite do império.
As narrativas mais lidas de Machado de Assis certamente se utilizam de estratégias que compõem “uma literatura de brancos, uma literatura para os brancos” (DUARTE, 2008)4 - literatura compreendida como sinônimo de integração entre leitor e obra. O primeiro recenseamento feito no Brasil, por volta de 1876, aponta que 84% dos brasileiros eram analfabetos. A elite branca lia seus textos e, por isso, o tema da afro-brasilidade surge de modo dissimulado.
Machado, o autor de Pai contra mãe, escreve para um pequeno grupo, explicando vez por outra os modos de vida de outros grupos sociais, a penúria que levaria um homem a caçar escravos fugidos e por que a Roda dos Inocentes solucionaria o futuro do filho da costureira e do pai sem profissão.
Harold Bloom, pesquisador de Yale, reconheceu que Machado é o maior escritor afro-descendente e que sua obra estaria acima das questões do racismo, mas há um Machado desconhecido do público. As crônicas que tratam das condições de existência do negro, por exemplo, em que Machado se utiliza de pseudônimos como Lélio, João das Regras, Policarpo, Dr. Semana e outros. Escondendo sua assinatura, ele protegia seu cargo de funcionário público, já que ele era homem de confiança do governo imperial.
Sob o pseudônimo de Dr. Semana, Machado apresenta o apreço pelos pró-abolicionistas mesmo antes da campanha se fortalecer. Ele sublinha a louvável atitude do Sr. Dr. Miguel Tavares “contra as mulheres que forçam escravas à prostituição” e “seu principal objetivo era a punição dos traficantes. Um bravo ao nosso denodado colega” (MACHADO, in DUARTE, 2007, p. 30). Machado não defende o racismo por meio da estereotipação do negro, mas, ao contrário, denuncia o racismo ao contar sobre as relações assimétricas entre escravos e senhores e as injustiças praticadas.
As atuais pesquisas sobre a obra de Machado de Assis ampliam os debates da área de literatura, alertam para a ausência da disciplina “Literatura Afro-brasileira” nos currículos de graduação e pós-graduação da maioria dos cursos de Letras instalados no Brasil, mantendo intacto o silêncio que leva ao desconhecimento público de textos do autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

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