A “racialização da sociedade” voltou a centralizar os argumentos dos especialistas que criticam a adoção de políticas de cotas raciais nas universidades durante o segundo dia de audiência pública sobre o tema no Supremo Tribunal Federal. Além de manifestarem temer a divisão da sociedade entre brancos e negros, os expoentes ainda ressaltaram que a mestiçagem do povo brasileiro não permite a “classificação das pessoas por raças”.
Diferentemente do primeiro dia de debates, iniciados nessa quarta-feira, quando os argumentos possuíam viés mais político, hoje, a ciência e a academia eram majoritárias nas discussões. O médico geneticista Sérgio Danilo Pena, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou resultados de um estudo feito por grupo de pesquisa que comanda para tentar fazer um mapa genético dos brasileiros.
Os dados apresentados por Pena mostram que quase todos os brasileiros possuem as três raízes ancestrais – européia, africana e ameríndia – em seus genes. “Não existe diferença de ancestralidade entre pretos, pardos e brancos no Brasil. A variabilidade é extremamente pessoal”, afirmou. “Por isso, não se justifica a segmentação dos brasileiros pela cor da pele”, defendeu.
Yvonne Maggie, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembrou que, nas escolas, as crianças e os adolescentes não se preocupam com a cor da pele na hora de escolher seus pares. Ela não compareceu ao evento por um problema de saúde, mas enviou uma carta lida por outro professor no plenário. Com as cotas, ela teme que a realidade mude entre a população. “Essa proposta vai contra o senso de razoabilidade”, disse.
George Zarur, antropólogo que leu a carta de Maggie, afirmou ainda que “a causa das maiores tragédias da humanidade foi a etnicidade”. Entre os exemplos dados pelo especialista, figuraram o apartheid na África do Sul, a divisão entre a população dos Estados Unidos e até o nazismo na Alemanha.
Ele defendeu que brancos e negros não são desiguais e que o racismo deve ser combatido com leis penais e não cotas. O professor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais acusou os defensores das ações afirmativas com base em critérios raciais de manipularem dados estatísticos para “aumentar a população negra”. “Essas políticas não merecem credibilidade”, disse.
Durante o discurso, Zarur chamou o Centro de Convivência Negra da Universidade de Brasília – cujo programa de cotas é alvo de ação que será analisada pelo STF – de “monumento à segregação”. O espaço foi criado pela instituição para abrigar atividades de apoio aos cotistas. “A racialização despreza a mestiçagem do povo brasileiro e fere a união da nação brasileira”, concluiu.
Fonte: Priscilla Borges, iG Brasília
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