Elisa Lucas Rodrigues, É presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de S. Paulo
Não dá para negar que Milton Gonçalves é um grande ator e que de destacou na Globo nas últimas décadas. Não dá para negar que durante anos, ele tem sido referência na Comunidade Negra, aliás, prerrogativa de todos aqueles que conseguem sucesso por seus próprios méritos.
Não dá para negar também, que ultimamente a mídia brasileira vem tratando o tema “Racismo e Preconceito Racial” como algo que já foi superado pela maioria dos brasileiros.
Na novela “Dance, dance, dance” da Bandeirantes, a mocinha bonita, rica e complicada, apaixonou-se pelo jovem negro que fazia faxina na academia em que ela dançava, e recebeu o maior apoio de sua mãe e foram felizes para sempre.
Na novela “Dance, dance, dance” da Bandeirantes, a mocinha bonita, rica e complicada, apaixonou-se pelo jovem negro que fazia faxina na academia em que ela dançava, e recebeu o maior apoio de sua mãe e foram felizes para sempre.
Na novela “Duas Caras”, parece que foi premeditado um branco para cada negro da novela e o racismo que no inicio ficava visível no “ Dr. Barreto”, acabou sendo superado e pouco se falou depois sobre racismo nesta novela.
Será que todos nós fomos vítimas de um surto de amnésia?Será que na vida real, os problemas foram realmente superados?Podemos encontrar negros atuando em todos os ramos e em todas as esferas da sociedade?Hoje, na novela “FAVORITA”, o ator Milton Gonçalves vive um político corrupto e embora ele defenda veementemente o papel, não dá para negar que ele presta um desserviço ao nosso povo, na medida em que mostra um político negro corrupto que se destaca em função de suas falcatruas quando na verdade, nunca tivemos um político negro que tenha se destacado da mesma forma sendo honesto e íntegro.
Seu papel me fazer lembrar a viúva Porcina da novela “Roque Santeiro” que ficou conhecida como “Aquela que foi sem nunca ter sido”, referindo-se ao fato dela ser considerada por todos, viúva de Roque Santeiro sem nunca ter se casado com ele.
É claro que este papel não tem como influenciar as eleições de Obama nos Estados Unidos, mas com certeza, será citado muitas vezes no Brasil, mostrando que um negro pode ser tão corrupto como um branco.E não pode, você vai me perguntar?Eu lhe respondo: sim, pode.
Assim como ele pode ser Diretor de empresa, Diretor de banco, Presidente de empresas, Reitor de Universidade e porque ele não é??
Por que apenas 3,5% dos negros ocupam cargos de destaque em nosso país?
Não é discutível que o negro só apareça igualando-se aos brancos demonstrando mau caratimismo e não possa fazê-lo ocupando cargos de destaque na sociedade?
Que Milton Gonçalves possa ter visto neste personagem mais uma chance de se projetar enquanto ator eu compreendo, mas acreditar que este papel não respingará nos negros que tem pretensões políticas em nosso país, é querer tapar o sol com uma peneira.
Temos consciência que não somos africanos e sim brasileiros, assim como temos consciência que nossos antepassados ergueram os pilares desta terra. Não fomos nós que nos segregamos. Não nos fechamos em uma ilha, enquanto povos oriundos de outras nações foram impedidos de viver com dignidade.
Entre o que ele quer acreditar e o que acontece comumente, tem uma distância gigantesca.
A prova é que negros preparados para o Mercado de Trabalho, ainda são preteridos todos os dias e isso fica claro nas atuais estatísticas que mostram que ainda temos um longo caminho a trilhar.As coisas não mudaram caríssimo Milton Gonçalves, porque você gostaria que assim fosse. Continuaremos na luta, apesar dos “Romildos”, da vida.
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