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quarta-feira, 9 de julho de 2008

O ator Milton Gonçalves reagiu com indignação a manifestações do Deputado José Cândido, do PT de São Paulo

Rio - O ator Milton Gonçalves, que interpreta o político negro corrupto Romildo Rosa (foto), na novela "A Favorita" da Rede Globo, reagiu com indignação a manifestações do deputado José Cândido, do PT de São Paulo, que em carta ao Painel do Leitor da Folha, se referiu a ele como estando “na contramão da causa negra”.“Não nutro ilusão juvenil de que o racismo poderia ser extinto de uma hora para a outra. O que quero é a igualdade de direitos e deveres perante a lei. Estou aberto a críticas, senão não estaria pondo minha cara a tapa todos os dias na TV. Mas não desabone minha conduta, pondo em xeque toda uma vida de militância, quando diz que ando na contração da causa negra. Cada um tem sua forma de lutar, e a que encontrei foi a expressão artística”, afirmou o ator também em carta ao Painel do Leitor sob o título “Vilão Negro”, publicada na edição de domingo (06/07). A carta de Cândido, foi publicada no Painel da edição do último dia 26 de junho.Milton, que é filiado há muitos anos ao PMDB carioca, lembrou a Cândido que o que deveria decepcioná-lo não era a sua atuação, mas sim "o fato de São Paulo possuir cerca de 650 municípios (são 645) e um enorme percentual de negros (são 12,5 milhões de afro-brasileiros) e, ainda assim, não consegue eleger negros, exceto seu filho, prefeito em Suzano”. Afropress não conseguiu localizar o deputado - único parlamentar negro eleito para a Assembléia Legislativa paulista nas últimas eleições.
Desserviço
O ator ficou especialmente indignado com a afirmação de Cândido, à propósito de sua atuação na novela de que estaria prestando um “desserviço” a luta dos negros no país. “Desserviço presta quem ser arvora “defensor dos negros” e amealha fortunas na gestão de ONGs por todo o Brasil”. Ele acrescentou não está se referindo ao deputado nem ao filho, Marcelo Cândido, prefeito em Suzano.Milton também lembrou que a imagem estereotipada no Brasil é a do negro bom, não a do mau negro – “até porque não costumamos ter personagens negros vilões, o que nos garantiu, até agora, certa invisibilidade social. Nem políticos negros corruptos deram as caras nas CPIs em Brasília. Que injustiça”, acrescentou.Ele finalizou a carta dizendo acreditar estar cumprindo a missão a qual se propôs desde o início de sua vida pública, há mais de 50 anos. “Pode ser que não esteja conseguindo me fazer entender ou que, por falta de um olhar mais atento, aqueles que me criticam é que não estejam a entender". “Só me resta repetir um pensamento do trompetista Miles Davis, quando solicitado a explicar sua música: se preciso, a esta altura do campeonato, senhor Cândido, me explicar, é porque certamente o interlocutor não entenderá”, concluiu.

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