Nei Lopes Cantor, compositor, escritor, advogado e historiador, iniciou a carreira musical na década de 70, cantando no LP "Tem Gente Bamba na Roda de Samba" e tendo sua composição "Figa de Guiné" (com Reginaldo Bessa) gravada por Alcione. Autor da "Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana" - Selo Negro - Edições.
Em 1966, no seu pioneiro Música popular, um tema em debate, José Ramos Tinhorão (que, de simples “crítico ranzinza” ascendeu à condição de um dos maiores historiadores da cultura popular brasileira e acabou por encetar carreira acadêmica, pra calar a boca dos donos da chamada “MPB”), listando os “pais da bossa-nova”, iniciava o rol com o nome de Johnny Alf, assim descrito: “pianista mulato brasileiro de nome americano”.
Três anos depois, era publicado O samba agora vai...: a farsa da música popular no exterior. Nesse livro, contando a saga do produtor Aluísio de Oliveira, “antigo empregado de Walt Disney”, em seus “40 anos de serviços prestados à música norte-americana”, Tinhorão, ao mencionar o encontro de Aluísio com a jovem cantora Silvinha Teles, que viria a ser sua mulher, afirma que ela “aumentava a idade para poder ouvir o mulato americanizado Johnny Alf tocar piano na boate Plaza, em Copacabana”. É claro que Tinhorão hoje escreve diferente. E nem tem mais tempo pra perder com essas bobaginhas dos anos 60, quando merenda ainda não era fast-food; nem liquidação, sale; nem entrega era delivery; e quando o único referencial positivo dos afro-brasileiros eram os negros americanos. Tinhorão hoje escreve diferente! Mas com a mesma clareza de sempre. Porque quase nada do que ele escreveu sobre a bossa-nova perdeu a validade. E ele, hoje, certamente há de reconhecer que, apesar “do acidente da cor” (expressão cunhada pelo padre Januário da Cunha Barbosa em elogio ao orador sacro João Pereira da Silva, no século 19); apesar de excluído, Johnny Alf foi “o cara”. Digo isso a propósito da matéria “De bem com a vida”, de Antonio Carlos Miguel, publicada na edição de 22.06.08 de O Globo. E sabendo que não só Johnny Alf foi “limado” do tal concerto do Carneggie Hall nova-iorquino em 1962 (“Disseram que não me encontraram, mas tinha gente que não gostava de mim” – entrega Alf), que no fundo foi uma festinha VIP brasileira, entre amigos, quase todos com sobrenomes em placas de ruas, edifícios ou galerias da zona-sul. Na mencionada matéria, recendendo a bom perfume, está lá a confessada idolatria de gente finíssima da chamada “MPB” ao “mulato americanizado”, mestre de Tom Jobim, João Donato e tantos outros. E está também o que muita gente, inclusive o Tinhorão, talvez não soubesse: que Alfredo José da Silva, o “Johnny Alf”, nascido em 19 de maio de 1929, e hoje se recuperando (que bom!) de uma doença braba, estudou piano clássico dos 9 aos 14 anos, graças à família bacana de quem sua mãe era empregada doméstica. Isto, é claro, ainda no tempo dos padrinhos e madrinhas, cujas “ações afirmativas” tinham possibilitado, um pouquinho antes, a ascensão de “mulatinhos pernósticos” (ah, se a juventude ainda pudesse contar com essa brisa, talvez, quem sabe...), tais como Machado de Assis, Lima Barreto, Teodoro Sampaio etc, etc, etc.
Três anos depois, era publicado O samba agora vai...: a farsa da música popular no exterior. Nesse livro, contando a saga do produtor Aluísio de Oliveira, “antigo empregado de Walt Disney”, em seus “40 anos de serviços prestados à música norte-americana”, Tinhorão, ao mencionar o encontro de Aluísio com a jovem cantora Silvinha Teles, que viria a ser sua mulher, afirma que ela “aumentava a idade para poder ouvir o mulato americanizado Johnny Alf tocar piano na boate Plaza, em Copacabana”. É claro que Tinhorão hoje escreve diferente. E nem tem mais tempo pra perder com essas bobaginhas dos anos 60, quando merenda ainda não era fast-food; nem liquidação, sale; nem entrega era delivery; e quando o único referencial positivo dos afro-brasileiros eram os negros americanos. Tinhorão hoje escreve diferente! Mas com a mesma clareza de sempre. Porque quase nada do que ele escreveu sobre a bossa-nova perdeu a validade. E ele, hoje, certamente há de reconhecer que, apesar “do acidente da cor” (expressão cunhada pelo padre Januário da Cunha Barbosa em elogio ao orador sacro João Pereira da Silva, no século 19); apesar de excluído, Johnny Alf foi “o cara”. Digo isso a propósito da matéria “De bem com a vida”, de Antonio Carlos Miguel, publicada na edição de 22.06.08 de O Globo. E sabendo que não só Johnny Alf foi “limado” do tal concerto do Carneggie Hall nova-iorquino em 1962 (“Disseram que não me encontraram, mas tinha gente que não gostava de mim” – entrega Alf), que no fundo foi uma festinha VIP brasileira, entre amigos, quase todos com sobrenomes em placas de ruas, edifícios ou galerias da zona-sul. Na mencionada matéria, recendendo a bom perfume, está lá a confessada idolatria de gente finíssima da chamada “MPB” ao “mulato americanizado”, mestre de Tom Jobim, João Donato e tantos outros. E está também o que muita gente, inclusive o Tinhorão, talvez não soubesse: que Alfredo José da Silva, o “Johnny Alf”, nascido em 19 de maio de 1929, e hoje se recuperando (que bom!) de uma doença braba, estudou piano clássico dos 9 aos 14 anos, graças à família bacana de quem sua mãe era empregada doméstica. Isto, é claro, ainda no tempo dos padrinhos e madrinhas, cujas “ações afirmativas” tinham possibilitado, um pouquinho antes, a ascensão de “mulatinhos pernósticos” (ah, se a juventude ainda pudesse contar com essa brisa, talvez, quem sabe...), tais como Machado de Assis, Lima Barreto, Teodoro Sampaio etc, etc, etc.
O título original do artigo é "Os 79 do "Mulato-Americano" nos 50 da Bossa-Nova Reproduzido de Meu Lote - www.neilopes.blogger.com.br - com autorização do autor.
Fonte: www.afropress.com.br
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