Newman Gregório, 36 anos, já fez de tudo um pouco. Foi servente de pedreiro, office-boy, segurança, motorista de madame e passou um tempo desempregado. Um dia, meio empurrado pela família, decidiu virar universitário. Em 2003, ele terminou um supletivo e concorreu à vaga de administração em uma universidade recém-inaugurada. 'Nas escolas onde estudei nunca tinha mais de um ou dois negros em sala de aula. Quando cheguei aqui, vi que éramos a maioria. Puxa, isso me fez tão bem!', contou.
Gregório entrou na primeira turma de alunos da Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares, a Unipalmares, em fevereiro de 2004. 'A gente não sabia muito bem o que iria acontecer. Não existia uma universidade com esse perfil, com ênfase na cultura negra e em alunos afrodescendentes. ', disse Gregório.
O fato é que a Unipalmares aconteceu. No final de novembro, Gregório e mais 149 estudantes irão se formar . Da turma pioneira, mais de 80% já estão empregados ou estagiando em grandes empresas, como o Banco Itaú, Santander, HSBC, Citibank e outras. A entrega dos canudos será no Ginásio do Ibirapuera e a festa de formatura no World Trade Center, da Luís Carlos Berrini (ainda sem data fechada), ambos na Zona Sul.
'Era recepcionista de escritório, ganhava um salário mínimo e meio. Hoje, trabalho em um dos maiores bancos do País', contou Simone de Jesus Cunha, 23 anos. 'No meu caso, eu era vendedora de loja. Achava que universidade era coisa de rico. Hoje, trabalho em uma instituição financeira renomada', diz Danielle de Lima Jeronymo, 25 anos.
Ideologia
Mesmo quem já tinha a vida ganha, como o artista plástico Tom Ruthz, 39, decidiu prestar vestibular. 'No início, era uma coisa ideológica. Eu queria participar deste movimento. Eu sabia que a Unipalmares ia fazer história', disse Ruthz.
Para os colegas, Ruthz foi uma figura importante. Como um dos alunos mais 'vividos', ele desempenhou o papel de porta-voz da turma. 'Eu ajudava na relação com a direção da universidade. Se alguém não podia pagar a mensalidade, a gente ia lá conversar, não deixava o colega desistir.
'A professora de sociologia Vera Cristina é uma das mais orgulhosas com os formandos. 'Eu sei bem como eles chegaram aqui. Sei o quanto eles cresceram, o quanto estão prontos. Não existe democracia racial no Brasil. O nosso espaço tem que ser conquistado através da educação. Nós temos que nos preparar para a vida e para o mercado. Meus alunos da turma de administração estão prontos para o que der e vier', comemorou a professora.
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