As comemorações da Semana da Consciência Negra da Escola Municipal Dora Abreu foram o cenário escolhido pela diretora do Museu Municipal, Lair Vidal, para a revelação dos resultados de um trabalho de transcrição de livros pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que funcionava junto à Catedral Nossa Senhora da Conceição no século XIX. Escritos a pena, os livros trazem nomes de escravos e negros alforriados da época e são um raro registro das atividades religiosas dos africanos e afrodescendentes que viveram na cidade nos tempos da escravidão.
Lair conta que os livros estavam entre o acervo do Museu Municipal e que não encontrou mais registros do funcionamento de tal irmandade ou se esta chegou a possuir uma sede própria. Um dos livros é uma espécie de registro de integrantes, constando o seu ingresso e mesmo suas contribuições para a entidade, além da data de falecimento, e o segundo é um livro de atas do grupo, listando alguns registros de decisões e atividades. Os documentos mostram que a irmandade era um espaço não só de oração, mas também de apoio, como a ajuda financeira para integrantes enfermos e até o “aluguel” de caixões para sepultamento destes. Outro registro interessante é a decisão do grupo de adquirir uma imagem de Nossa Senhora do Rosário oriunda da “cidade da Bahia”, de três palmos de altura, coroa de prata e menino Jesus, a fim de ser usada em procissões.
CURIOSIDADES - Para ser aceito na entidade a pessoa deveria afirmar-se devoto de Nossa Senhora do Rosário diante do escrivão, que registrava a declaração por escrito. Escravos deveriam estar autorizados por seus senhores e mulheres casadas por seus maridos para integrarem o grupo. Há junto do registro dos integrantes um indicativo de que algo era pago no momento da adesão ao grupo, porém, não fica claro se tratava-se de dinheiro. Lair transcreveu os livros e agora espera poder digitá-los para facilitar seu uso para pesquisadores de várias áreas: “O livro oferece, por exemplo, aspectos sobre a evolução da nossa língua e o registro de famílias cachoeirenses que possuíram escravos”, salientou. Nas contabilidades da diretora, há nos registros o nome de 85 escravos e 98 negros libertos.
Na época a cidade possuía outras três irmandades: Nossa Senhora da Conceição Padroeira, São Miguel e Almas e Santíssimo Sacramento. Juntas, as quatro fundaram o Cemitério das Irmandades, após a proibição do sepultamento de pessoas nas paredes e chão da Catedral Nossa Senhora da Conceição, em 1832. No novo cemitério, os negros passaram muito tempo a possuírem um espaço específico para os seus sepultamentos.
Alguns nomes dos livros
Escravos> Rita, Antônio, Renato, Bonifácia e Francisco, escravos do reverendo vigário Inácio Francisco Xavier dos Santos
> João Lizio, escravo do capitão Manoel Carvalho
> Anna e Matildes, escravas de João Antônio Carpes
> Roza, escrava de Isidoro José de BarcelosLibertos
> Antonio Congo Franco
> José de Amorin
> Catharina de Souza
> Felizarda Faustina
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