Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, a Princesa Isabel, aboliu a escravidão numa canetada no dia 13 de maio de 1888. Heroína por um tempo, a princesinha, já morta e enterrada, caiu em desgraça com um precipitado revisionismo histórico propagandeado por setores do movimento negro.
Os revisionistas transformaram Isabel de mocinha em bandida quando questionaram a amplitude da Lei Áurea, que libertou os escravos, mas que os teria deixado entregues à própria sorte, sem indenização pelos anos de trabalho não-remunerado, sem casa, sem terra e sem emprego. Contudo, novos estudos estão reabilitando Isabel Cristina Leopoldina etc, etc, etc, e ao que tudo indica a herdeira do trono imperial brasileiro era muito mais progressista do que se imaginava: defendia o voto feminino e queria promover a reforma agrária.
O historiador Eduardo Silva, da Fundação Casa de Rui Barbosa, teve acesso a documentos inéditos, como cartas da princesa endereçadas a proprietários de terra. Antes da Lei Áurea a princesa gastava boa parte de seu dinheiro comprando escravos (mas não era para explorá-los e sim para libertá-los). Após a assinatura ela pretendia comprar terras para assentar os recém-libertos, não descartando inclusive contrair empréstimos do Banco Mauá para distribuir pedaços de chão a todos os ex-escravos. Como eram muitos os negros, Isabel tentou até conseguir doações de terra e dinheiro para promover essa reforma agrária.
“Com os fundos doados pelo senhor teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, afrodescendentes em terras próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos”, escreveu no dia 11 de agosto de 1889 em missiva endereçada ao Visconde de Santa Vitória.
A filha de Dom Pedro II não teve tempo de concretizar seus planos, uma vez que pouco mais de três meses após o envio dessa carta ao visconde, isto é, no dia 15 de novembro de 1889, um grupo de militares promoveria um golpe de Estado, proclamando uma república ditatorial e expulsando a família real do Brasil, incluindo a princesa, que havia nascido em solo brasileiro (e não português). Os militares, aliados aos grandes proprietários de terra, estavam possessos com a libertação dos escravos e não aceitavam a idéia de que uma mulher (Isabel) se tornasse governante do país, como ocorreria dali a quatro anos, quando Dom Pedro II (já velhinho) abdicaria em seu favor, ou antes, caso o imperador viesse a morrer. A questão era agravada pelo fato de a futura imperatriz, que já havia ocupado o comando da nação provisoriamente em algumas ocasiões (ela assumia a regência do império na ausência do pai, por viagem ou doença), ter aproveitado essas oportunidades aprovando a Lei do Ventre Livre e posteriormente a Lei Áurea.
De fato, a república proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca não consolidou a democracia, uma vez que num primeiro momento só militares assumiam a chefia do Executivo e, depois, só os homens muito (muito mesmo) ricos podiam votar e ser votados. Ao longo de nossa história republicana houve ainda inúmeros golpes de Estado e ditaduras. Apenas muito recentemente é que iniciamos um processo de consolidação da democracia.
Os ex-donos de escravos queriam ser indenizados pela perda de sua “propriedade” e as cartas que demonstravam a intenção da princesa de indenizar não a eles, mas sim aos escravos (pelos quatro séculos de trabalho sem pagamento acompanhados de lesões corporais e morais), podem ter motivado os magnatas a dar fim à monarquia antes que ela se tornasse mais progressista ainda.
As dívidas com os negros até hoje não foram pagas e a estrutura fundiária brasileira permanece inalterada, como herança maldita de nosso passado escravista. Mas a república, conforme se fortalece enquanto democracia, oferece hoje em dia condições para que esse quadro venha a ser revertido. Depende de nós.
Os revisionistas transformaram Isabel de mocinha em bandida quando questionaram a amplitude da Lei Áurea, que libertou os escravos, mas que os teria deixado entregues à própria sorte, sem indenização pelos anos de trabalho não-remunerado, sem casa, sem terra e sem emprego. Contudo, novos estudos estão reabilitando Isabel Cristina Leopoldina etc, etc, etc, e ao que tudo indica a herdeira do trono imperial brasileiro era muito mais progressista do que se imaginava: defendia o voto feminino e queria promover a reforma agrária.
O historiador Eduardo Silva, da Fundação Casa de Rui Barbosa, teve acesso a documentos inéditos, como cartas da princesa endereçadas a proprietários de terra. Antes da Lei Áurea a princesa gastava boa parte de seu dinheiro comprando escravos (mas não era para explorá-los e sim para libertá-los). Após a assinatura ela pretendia comprar terras para assentar os recém-libertos, não descartando inclusive contrair empréstimos do Banco Mauá para distribuir pedaços de chão a todos os ex-escravos. Como eram muitos os negros, Isabel tentou até conseguir doações de terra e dinheiro para promover essa reforma agrária.
“Com os fundos doados pelo senhor teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, afrodescendentes em terras próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos”, escreveu no dia 11 de agosto de 1889 em missiva endereçada ao Visconde de Santa Vitória.
A filha de Dom Pedro II não teve tempo de concretizar seus planos, uma vez que pouco mais de três meses após o envio dessa carta ao visconde, isto é, no dia 15 de novembro de 1889, um grupo de militares promoveria um golpe de Estado, proclamando uma república ditatorial e expulsando a família real do Brasil, incluindo a princesa, que havia nascido em solo brasileiro (e não português). Os militares, aliados aos grandes proprietários de terra, estavam possessos com a libertação dos escravos e não aceitavam a idéia de que uma mulher (Isabel) se tornasse governante do país, como ocorreria dali a quatro anos, quando Dom Pedro II (já velhinho) abdicaria em seu favor, ou antes, caso o imperador viesse a morrer. A questão era agravada pelo fato de a futura imperatriz, que já havia ocupado o comando da nação provisoriamente em algumas ocasiões (ela assumia a regência do império na ausência do pai, por viagem ou doença), ter aproveitado essas oportunidades aprovando a Lei do Ventre Livre e posteriormente a Lei Áurea.
De fato, a república proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca não consolidou a democracia, uma vez que num primeiro momento só militares assumiam a chefia do Executivo e, depois, só os homens muito (muito mesmo) ricos podiam votar e ser votados. Ao longo de nossa história republicana houve ainda inúmeros golpes de Estado e ditaduras. Apenas muito recentemente é que iniciamos um processo de consolidação da democracia.
Os ex-donos de escravos queriam ser indenizados pela perda de sua “propriedade” e as cartas que demonstravam a intenção da princesa de indenizar não a eles, mas sim aos escravos (pelos quatro séculos de trabalho sem pagamento acompanhados de lesões corporais e morais), podem ter motivado os magnatas a dar fim à monarquia antes que ela se tornasse mais progressista ainda.
As dívidas com os negros até hoje não foram pagas e a estrutura fundiária brasileira permanece inalterada, como herança maldita de nosso passado escravista. Mas a república, conforme se fortalece enquanto democracia, oferece hoje em dia condições para que esse quadro venha a ser revertido. Depende de nós.
Fonte: http://www.jornaldopovo.com.br/ , texto de Leandro Cruz colunista JP
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