Casada com negro servidora da UFPel escreveu texto tachado de racista
A má utilização de um recurso de linguagem lançou uma servidora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) no centro de uma polêmica de repercussão nacional.Ao tentar escrever um texto irônico para o jornal do sindicato de sua categoria, a técnica administrativa Rosane Brandão, 45 anos, acabou tachada de racista, mesmo sendo casada com um negro, e tornou-se alvo da ira do Movimento Negro e de parte da comunidade de Pelotas.Publicado originalmente no blog da Associação dos Servidores da Universidade Federal de Pelotas (Asufpel), o texto “Uma nova tendência de moda para os próximos anos – Um pot-pourri de situações” aborda o tema das cotas para negros nas universidades federais.
Ao ser publicado na edição de outubro do informativo da entidade, teve um efeito explosivo entre a comunidade negra.Na tentativa de provocar discussão e atrair a atenção dos leitores, a autora apelou para frases como “Inventaram agora que os negros fazem parte da sociedade” ou “melhor agüentar um branco pobre a um negro pobre”, que dentro do contexto pensado deveriam conceder um tom irônico à crônica.
O tiro, todavia, saiu pela culatra.– O texto é preconceituoso, especialmente na sua primeira parte, porque a autora assume esse discurso racista, mas não apresenta elementos contraditórios capazes de frisar a ironia e desfazer a idéia de que ela pensa assim – analisa João Luís Ourique, professor de Literatura Brasileira da UFPel.A falta desses elementos ou a atribuição das frases racistas a alguém (ex.: como dizem...) contribuiu para a má interpretação das idéias expostas pela autora.
Na quarta-feira, a coordenação do Movimento Negro de Pelotas registrou ocorrência por crime de racismo na Polícia Civil contra a servidora. Na quinta-feira, Rosane Brandão reuniu-se com representantes do movimento para tentar apagar o incêndio.
Os líderes da comunidade negra, porém, decidiram manter a queixa.– Ela fez os esclarecimentos necessários e nós entendemos, mas o que fica é um texto publicado com notória escrita racista, por isso deixaremos a ação seguir seu caminho. Este episódio deve servir de lição para as pessoas lembrarem que ao escrever sobre os outros e suas marcas é preciso fazer isso com responsabilidade – argumenta Maritza Freitas, coordenadora do Movimento Negro de Pelotas.
Autora da crônica está com medo de sair de casaA polêmica gerada em torno da crônica espantou e amedrontou a autora e sua família. Ontem, Rosane saiu de casa apenas para trabalhar e passou o resto do dia reclusa em seu apartamento acompanhada dos quatro filhos (de 24, 23, 19 e 12 anos), de parentes e amigos que foram visitá-la para prestar solidariedade. Por medo de represálias, pediu para não ser fotografada.
O fato de ser casada com um negro – o também servidor público federal João Alberto Pedroso, 50 anos – e de militar em movimentos sindicais e sociais é usado por Rosane como justificativa para negar o preconceito a ela atribuído:– Podem me acusar de não saber escrever um texto, mas não de ser racista, minha história e militância mostram quem sou.
Fonte: Zero Hora
Um comentário:
Não é necessário mais que dois minutos para descobrir quem é a "ré". Mãe de 4 filhos, socialista, casada com um negro e uma das maiores defensoras de políticas de afirmação positiva dentro da UFPel. Isto não precisaria ser dito se aqueles que a acusam lessem o texto dela e o anterior, publicado no mesmo jornal. Ali, sem ironia, a sra. faz um agradecimento especial a representante do movimento negro dentro do Conselho Universitário. Engrandece o movimento qdo. diz que este setor da sociedade é que tem a pauta do trabalhador. Antecipa a próxima briga encampada por ambas: a aprovação das cotas raciais. Ela é uma das poucas pessoas, em sua categoria, que defende abertamente essa pauta. Por ser casada com um negro, vê, ouve e sofre racismo velado. Qdo. iniciopu a polêmica, a sra. ainda explicou, convincentemente, sua opinião. Parece que ninguém leu, ninguém quis ouvir. Conversou com o movimento, poderiamos ter debatido melhor. Hoje, temos uma conjuntura onde uma grande parcela do movimento está ao lado da moça. Lembre-se que a Constituição assegura o princípio da presunção d einocência, pelo qual ninguém será culpado antes de trânsito em julgado de descisão condenatória, e qu eo crime de racismo imprescinde de dolo, como bem explicou o advogado da ré, Marcelo Gayardi. Ao contrário, os únicos crimes materializados neste caso, foram de injúria e difamação contra a servidora. Há de se ter cuidado. A própria Maritza deu uma declaração ao jornal onde aboslve por completo a pessoa que está querendo condenar!
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