Cinco músicas inacabadas da fase ‘Racional’ do cantor apareceram na web.Músico, que morreu no dia 15 de março, teria abandonado o material em estúdio.
Um dos maiores responsáveis pelo molho suingado feito à base de funk e soul que temperou a música brasileira a partir da década de 70, Tim Maia morreu há exatos dez anos, mas até hoje reserva surpresas. A mais recente delas foi o surgimento, na internet, de cinco faixas inéditas de sua fase “Racional”. O músico teria abandonado o material em um estúdio de gravação, há cerca de 30 anos.
As fitas de oito canais foram digitalizadas pelo produtor Dudu Marote, que descobriu o material ao trabalhar com o engenheiro de som William Junior, em 2000. O pai dele era dono de um estúdio no Rio de Janeiro nos anos 70. Tim Maia gravou as músicas lá, mas nunca mais foi buscar.
Para ter uma referência, Marote deu às faixas nomes provisórios: “Escrituração racional 1 e 2”, “You gotta be rational”, “Universo em desencanto disco” e “Brasil Racional”. "Esse material tem valor histórico", diz o produtor. "Estamos falando de faixas de cuja existência ninguém sabia, nem a família do Tim Maia.""Existe um discurso de que ele fez um trabalho melhor nessa fase porque não estava usando drogas. Mas há um dado importante: ele já havia gravado as músicas quando entrou para a seita. Ele se apaixonou pela filosofia e decidiu modificar as letras", diz. "Mais tarde, houve uma ruptura. O Tim Maia ficou decepcionado e abandonou tudo. Por isso, tem músicas que ficaram mais e outras menos completas."
Outros tins
Para Marote, as faixas inéditas mostram algumas facetas de Tim Maia que o público desconhece. "Em 'Escrituração racional', ele faz uma coisa meio rara, que é cantar em falsete, estilo que ele dominava e que depois abandonou", avalia. "Já em 'Brasil racional' Tim está literalmente lendo o livro sobre uma base funk." “Universo em desencanto disco”, segundo o produtor, marca um momento de transição do músico. "O primeiro álbum 'Racional' é mais soul, o segundo é mais funk, e o terceiro caminharia para a disco. É um tipo de melodia bem 'Dancin' days'", diz."O que eu acho mais legal de tudo é as faixas estarem incompletas. É sensacional escutar o Tim Maia conversando com as pessoas no estúdio. Como grande fã, ter acesso a esse material vale muito mais do que se as músicas estivessem perfeitas."
No ano passado, William Junior passou os tapes para o produtor Kassin, e juntos eles voltaram a trabalhar nesse material e em outras faixas encontradas posteriormente.
'Coisas fabulosas'
O jornalista Nelson Motta, autor de "Vale tudo - O som e a fúria de Tim Maia", biografia do cantor recentemente lançada, disse que só soube das faixas quando o livro estava pronto. "Não conheci as versões mixadas pelo Dudu Marote. Ouvi, sem mixagem, as oito que o Kassin me mostrou", disse Motta, amigo de Tim Maia ao longo de boa parte de sua carreira. "Tem coisas fabulosas, talvez seja o melhor dos três discos [da série 'Racional']".
Cultura Racional
Ao entrar para a seita que tem como base os preceitos do livro “Universo em desencanto”, cuja filosofia mistura elementos de umbanda e crença em extraterrestres, Tim Maia mandou pintar todos os instrumentos de branco e passou um bom período completamente livre das drogas. A aventura religiosa rendeu dois discos, hoje cultuadíssimos: “Tim Maia Racional vol 1” (1975) e “Tim Maia Racional vol 2” (1976).
No repertório, há pérolas como “O caminho do bem” e “Leia o livro”, na qual Tim Maia prega, em inglês: “read the book”. Mas, imprevisível como só o próprio Tim, o músico se desencantou com a seita e mandou tudo às favas, inclusive os álbuns, que foram renegados.
Fonte G1
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